ilustração alusiva à implantação da República, C.M. Estremoz
Perfazem hoje 100 anos sobre a Revolução que pôs termo à Monarquia em Portugal e abriu caminho para a Proclamação da República. O Ministério da Educação constituiu uma Comissão para a comemoração da República e lançou um repto a todas as Escolas e Agrupamentos de Escolas do País para que aderissem a esta iniciativa. As Escolas e o Agrupamento Vertical das Escolas do concelho de Valpaços reagiram afirmativamente a esse apelo, através de actividades várias tivemos ocasião de assinalar neste blogue e cujo último evento decorreu no passado dia 1 de Outubro, também por nós noticiado. Hoje, na cidade de Valpaços, encontra-se a decorrer, desde as 10 horas mais uma cerimónia comemorativa do mesmo evento por iniciativa da Câmara Municipal que conta com a participação da Banda Municipal, integra uma sessão solene a realizar no auditório do pavilhão multi-usos com intervenções do Presidente do Município, Engenheiro Francisco Baptista Tavares e do Dr. António Montalvão Machado, Deputado da Assembleia da República, cerimónia esta que será encerrada pelas 15 horas com um concerto da Banda Municipal. O Programa foi publicado ontem no Notícias de Valpaços. (Nota póstuma: também já pode ver fotos da abertura da cerimónia em Valpassos d'Oje, e um interessante resumo, igualmente com fotos alusivas, das comemorações, em Lebução de Valpaços.)
Limitar-nos-emos hoje a divulgar os acontecimentos ocorridos na data comemorativa em referência, posto que as implicações dela emanadas na subsequente evolução política, social e económica portuguesa foram já devidamente tratadas e divulgadas por iniciativa das escolas do concelho e noticiadas neste e noutros meios de comunicação e divulgação exclusivistas ou generalistas. Uma equipa do Grupo de História do Agrupamento de Escolas de Valpaços, editou um panfleto ilustrado, em conformidade com o Plano de Actividades submetido a aprovação do Conselho Pedagógico, que se encontra em fase de divulgação nos respectivos estabelecimentos escolares desde o passado dia 1 de Outubro com este objectivo exclusivo – revelar os antecedentes, os acontecimentos históricos mais relevantes ocorridos na data em epígrafe, bem como o desfecho desses mesmos acontecimentos e suas implicações no contexto do tema da República em Portugal. É o teor desse panfleto que iremos publicar neste espaço.
A data de 5 de Outubro de 1910 representa o fim da Monarquia e a Implantação da República em Portugal.
OS ANTECEDENTES
Os últimos anos da Monarquia, em Portugal, foram vividos sob um clima de grande agitação e descontentamento por parte da população devido a uma série de factores de que destacamos: A subjugação do país aos interesses coloniais britânicos, os gastos da família real, o poder da igreja, a instabilidade política e social, o sistema de alternância de dois partidos no poder (os progressistas e os regeneradores), a ditadura de João Franco, a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos e se adaptar à modernidade. A República afigurou-se, à opinião pública, como a melhor alternativa para restaurar o prestígio perdido e colocar Portugal no caminho da modernidade. O Partido Republicado, criado em 1876, soube aproveitar esta situação, através de uma campanha política e doutrinária, paralelamente à cooperação de sociedades secretas da Maçonaria Portuguesa.
A 31 de Janeiro de 1891 deu-se a primeira tentativa de instauração do Regime Republicano, com a revolta ocorrida na cidade do Porto. Da varanda da Câmara Municipal do Porto fez-se a proclamação da República. Mas o cortejo festivo que se seguiu foi barrado por um forte destacamento da Guarda Municipal e a multidão civil entrou em debandada, e com ela alguns soldados. A primeira tentativa revolucionária republicana falhara, mas este acontecimento veio fortalecer ainda mais a determinação dos revoltosos.
A manifestação republicana de 31 de Janeiro, segundo a revista Ilustração
Com a ditadura de João Franco, que o rei D. Carlos favoreceu, colocando-o, em 1906, na presidência de um novo ministério, de modo a restaurar a ordem pública e controlar os adversários do regime, o descontentamento dos portugueses intensificou-se ao ponto de, dois anos mais tarde, ocorrer o Regicídio: A 1 de Fevereiro de 1908, quando regressavam a Lisboa vindos de Vila Viçosa, no Alentejo, onde haviam passado a temporada de caça, o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro Luís Filipe foram assassinados em plena Praça do Comércio.
O Regicídio, 1 de Fevereiro de 1908, in http://novaaguia.blogspot.com
Com apenas 18 anos sobre ao trono D. Manuel II, que viria a ser o último rei de Portugal. Inicialmente aclamado com a simpatia generalizada dos portugueses, procurou D. Manuel II nomear um governo de consenso. Mas os partidos monárquicos foram-se fragmentando e a situação política degradou-se, ao mesmo tempo que o Partido Republicado se tornava cada vez mais coeso e organizado. A revolução decisiva não tardou a eclodir, sob a égide de fervorosos membros deste partido que foram considerados os mentores da Revolução. Entre eles destacaram-se Magalhães Lima, Miguel Bombarda, Cândido dos Reis, Afonso Costa, José Relvas, João Chagas, António J. de Almeida, Eusébio Leão e Inocêncio Camacho (na imagem: De cima da baixo / esquerda para a direita).
Os mentores da Revolução
A REVOLUÇÃO
No Verão de 1910 a Revolução adivinhava-se. A 3 de Outubro começou a organizar-se a Revolução. Após o assassinato de Miguel Bombarda, ainda se pensou em adiá-la, mas por determinação do Almirante Cândido dos Reis, os planos mantiveram-se, e iniciaram-se as movimentações.
Os primeiros movimentos militares
Os principais chefes militares que comandaram as operações das forças militares em confronto foram o capitão Sá Cardoso e o Comissário Naval Machado Santos, pelos Republicanos, e o Capitão Paiva Couceiro pelas forças da ordem monárquica.
De madrugada soaram tiros e instalaóu-se o pânico entre os revolucionários. O Quartel de Marinheiros de Alcântara, que estava previsto revoltar-se, encontrava-se cercado pela Infantaria 1, Cavalaria 4 e Caçadores 2, fiéis à Monarquia. Na rua posicionavam-se 3 000 monárquicos com as baterias a cavalo. O capitão Sá Cardoso, com um pelotão de Infantaria 16 partiu ao ataque do Palácio das Necessidades
O Comissário naval, Machado Santos, com praças do corpo de Infantaria 16 de Campo de Ourique, atacou o quartel de Artilharia 1. Com outra força de Infantaria 16 investiu sobre a esquadra de Polícia no Largo do Rato e armou os civis que aí se voluntariaram.
Às 5 horas comandou as forças revoltosas que desceram a Avenida em direcção ao Rossio. Foram bombardeados, retrocederam para a Rotunda e fecharamm as entradas para as Avenidas Fontes e duque de Loulé.
Pelas 9 horas, Machado Santos dispunha apenas de 8 peças de artilharia e oomandou 9 sargentos e uma escassa guarnição de 200 homens, mas um grupo de civis armados acorreram à Rotunda para os auxiliar e resistiriam aí até à rendição das tropas fiéis à Monarquia.
Endurecimento e desfecho do conflito
4 e 5 de Outubro de 1910.
Às 12 horas e 30 minutos, as forças leais à Monarquia comandadas pelo Capitão Paiva Couceiro fustigavamm duramente a Rotunda com as baterias de Queluz. Às 14 horas os cruzadores S. Rafael e Adamastor bombardeavam o Palácio nas Necessidades.
Os heróis da Rotunda
As tropas terrestres fiéis à causa republicana tinham-se instalado na Rotunda, onde sofriam um forte bombardeamento das forças monárquicas.
A situação era desesperante, chegando ao ponto de o capitão Sá Cardoso colocar a hipótese de depor as armas. Machado Santos, por seu turno, não se conformou com esta alternativa, chegando a afirmar que preferia a morte à rendição.
Às 6 horas do dia 5 de Outubro as forças revoltosas abriam fogo contra as forças do Rossio, enquanto de Queluz respondiam as baterias de Couceiro, que deu ordens para que começassem a desembarcar os marinheiros dos navios de guerra estacionados no Tejo. O confronto endureceu, até que, por fim, o General-chefe das forças monárquicas, Paiva Couceiro, vendo a sua causa perdida, assinou, às 9 horas, a acta da rendição.
Leitura da proclamação da República
na sessão inaugural das Câmaras Constituintes
Com a Familia Real de partida para o exílio, era, finalmente proclamada a República e em seguida foi organizado um governo provisório presidido pelo respeitável republicano moderado Dr. Bernardino Machado.
O Governo Provisório, tal como foi anunciado e 5 de Outubro
Mas o governo provisório viria a sofrer algumas mudanças imediatas, com a saída de Basílio Teles do Ministério das finanças, no que foi substituído por José Relvas e também pelo abandono de António Luís Gomes do Ministério do fomento, substituído por Brito Camacho.
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