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A vida de e a morte São João de Brito, segundo “Os Grande Portugueses”
Portugal vivia a Guerra da Restauração quando João de Brito nasceu em Lisboa em Março de 1647, perto da costa do Castelo. Filho do trincheiro-mor de D. João IV, já tinha entrado na adolescência quando foi vítima de uma grave doença. A cura marcou uma viragem na sua vida. Para dar cumprimento à promessa da mãe, vestiu o hábito de S. Francisco Xavier. Neste aspecto, João de Brito parece que tinha o destino traçado num caderno.
Entrou no noviciado da Companhia de Jesus, em Lisboa, e fez estudos em Évora e Coimbra. Foi professor no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, mas o seu trânsito e influência no meio religioso não se resumiram ao território nacional. O seu sonho era a Índia. Passados alguns anos, e consolidada a vocação, foi ordenado padre e recebeu com alegria o mandato de partir em missão para a Índia. Partiu em 25 de Março de 1673, numa expedição em que seguiram 27 jesuítas, enviados para a Índia e a China.
“Ninguém conseguiu retê-lo. João de Brito foi efectivamente para a Índia, onde levou a sua preocupação evangélica em estado puro. Saiu dos territórios onde os portugueses já estavam para se aventurar em territórios onde nunca tinham estado”, explica D. Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa. São João de Brito parece que nasceu fadado para cumprir a missão de ser a principal pedra no sapato das atitudes derrotistas, do laxismo, da prepotência e da desesperança. A sua vida mostra um percurso feito de inspiração e competência.
Desembarcou em Goa, a grande capital do Oriente e, de imediato, foi visitar o túmulo de S. Francisco Xavier. Em Abril de 1674 entrou na missão do Maduré, na qual abraçou a vida austera e penitente dos pandarás-suamis, com o objectivo de evitar a repugnância dos indianos cultos pelos missionários, então associados à conversão dos párias, a casta mais desprezada da Índia. A sua figura foi emblemática do novo método de evangelização seguido na Índia pelos missionários. Em 12 anos de apostolado, atravessou os reinos de Ginja e de Travancor, cruzou a pé, muitas vezes descalço, o continente índico e percorreu a costa da Pescaria e de Travancor. Esteve prestes a perder a vida, em muitas situações.
Em 1685 foi nomeado superior da Missão de Maduré. Esperavam-no atribulações e sacrifícios. No território de Murava foi sujeito ao suplício da água e açoites. As autoridades interditaram-no de pregar por aquelas bandas. Em 1686 desencadeou-se uma violenta perseguição no Maravá. São João de Brito apressou-se a apoiar os cristãos e foi preso pelo chefe das milícias daquele reino, que o sujeitou a enormes torturas e condenou-o a ser empalado. Mas a sentença precisava de confirmação do rei. Depois de sujeitá-lo a interrogatório sobre a doutrina que pregava, o monarca restituiu-o à liberdade, impondo-lhe que não voltasse a entrar no Maravá. João de Brito partiu para o Malabar. O provincial mandou-o, então, como procurador à Europa, a fim de, em Lisboa e em Roma, informar o que se passava nas missões. Chegou a Lisboa em Setembro de 1687, mas por motivos políticos o novo soberano, D. Pedro II, não autorizou a viagem a Roma. João de Brito percorreu, então, as principais casas dos jesuítas em Portugal, procurando apoios para a missão no Oriente.
Voltou a partir para a Índia em 1690 com 25 novos missionários, dos quais 14 eram portugueses. Os convertidos ao catolicismo atingiam os 8000. Entre eles contava-se um príncipe da casa real, baptizado em 6 de Janeiro de 1693. Corria célere a fama do apóstolo do Malabar e os poderosos locais olhavam-no com desconfiança. A condenação não tardou. Bastou que João de Brito tivesse ido outra vez à terra de Maravá para que o governador o acusasse de desobediência e o condenasse à morte. O martírio fez-se no alto de um monte, à vista de Urgur. Decapitado, o cadáver foi amputado de pés e mãos, e os despojos dados às feras e aos abutres. Os cristãos puderam ainda recolher o crânio e alguns ossos. Conseguiram obter o cutelo da execução, mediante elevada soma de dinheiro. Foi trazido para Lisboa e oferecido a D. Pedro II, que o confiou à guarda da Companhia de Jesus.
O local do martírio começou de imediato a ser venerado pelos cristãos. Séculos mais tarde o Papa Pio XII canonizou o santo missionário português. “São João de Brito teve a capacidade de ir até ao fim levado por um sonho”, afirma D. Manuel Clemente. “Foi capaz de se adaptar, cultivar os hábitos locais sem perder os valores que também transportava. Isto faz dele uma figura de primeiro plano. De Portugal no seu melhor.”
In RTP, Os Grandes Portugueses | http://www.rtp.pt
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