domingo, 20 de março de 2011

Fontes, chafarizes e marcos fontanários do concelho de Valpaços – Água Revés e Crasto 2

Transcrição do texto de Adérito Medeiros Freitas

Recriação gráfica pseudo-faiança de Leonel Salvado

Tema: Observações relativas à Fonte de S. João, Água Revés | Objecto: prato
criação digital e adaptação: Leonel Salvado
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Dando continuidade, por ordem alfabética do nome das freguesias, a esta iniciativa para divulgação do património artístico e arquitectónico do concelho de Valpaços, no caso as fontes, chafarizes e marcos fontanários que vieram a público na forma de um extraordinário trabalho de pesquisa e estudo levado a cabo pelo Dr. Adérito Medeiros Freitas publicado em 2005 em dois volumes, uma edição da Câmara Municipal de Valpaços na mesma forma de divulgação diferente com uma apresentação iconográfica pouco usual e destinada aproveitar a sensibilidade dos nossos leitores para a bela e diversificada tradição artística portuguesa que é a Faiança é chegada a vez de apresentarmos mais uma jóia da arquitectura edificada na freguesia de Água Revés e Castro.

FREGUESIA DE ÁGUA REVÉS E CRASTO – Água Revés 2

2 – Fonte de Mergulho

Tema: Fonte de S. João, Água Revés | Objecto: prato
Foto – base: Adérito M. Freitas | criação digital e adaptação: Leonel Salvado
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Localização: Água Revés

Lugar: Fonte de S. João.
Altitude: 437 metros Longitude: 7º 21’ 09,3’’ W Latitude: 41º 33’ 21,7’’ N
Ano de construção: Desconhecido
Material de construção: Granito equigranular de grão médio a fino, com moscovite e biotite.
Características gerais: Apesar de nos encontramos numa zona de rochas metamórficas, xistosa, esta fonte, tal como acontece com muitas outras construções de Água Revés, é toda construída em granito. É uma fonte de raro interesse que merece ser preservada e divulgada, pois que possui algumas características arquitectónicas de grande beleza e únicas entre todas as fontes do Concelho de Valpaços como, por exemplo, o nicho destinado a conter a imagem de S. João.
Quem visita a Fonte de S. João reconhece imediatamente que, ao longo dos anos e ainda recentemente, profundas alterações ao ambiente envolvente foram introduzidas e nem todas, infelizmente as mais aconselhadas. Uma das fachadas laterais e a fachada posterior desta fonte estão, hoje, totalmente tapadas por altos muros de uma propriedade vivinha. Na minha opinião esta fonte estaria, inicialmente, totalmente livre e, os muros referidos, teriam sido construídos posteriormente, como parece ficar demonstrado pela existência, ao nível da cobertura, de uma cornija emoldurada no topo das suas quatro fachadas. Acredito que, se a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Valpaços se interessarem, o proprietário do terreno não se oporá a que o referido muro seja recuado cerca de 1,50 m valorizando assim, e muito, a fonte de S. João.
A planta interna, rectangular, mede 1,60 m de comprimento e 1,27 m de largura. A nascente não é local, situa-se do lado esquerdo do caminho a alguns metros acima da fonte. O fundo do reservatório foi cavado directamente na rocha metamórfica natural e está fortemente inclinado para a região posterior. Como resultado desta irregularidade da base do depósito, a sua profundidade anterior não excede os 70 cm, enquanto que, posteriormente, atinge 1,50 m.
A porta mede 1,67 m de altura máxima e 1,31 m de largura. Termina em arco de volta perfeita. […]
O tecto, em “abóbada de berço”, é formado por quatro “aduelas” longitudinais justapostas, cada uma das quais mede 45 cm de largura, magnificamente trabalhadas. As duas aduelas basais da abóbada assentam, uma de cada lado, numa saliência longitudinal emoldurada, a “imposta”, com 15 cm de espessura, saliente 5 cm e que se posiciona 1,04 m acima da soleira da porta. A fim de formarem um arco perfeito, cada uma destas aduelas possui a sua superfície interna longitudinal deprimida e em forma de caleira, larga mas pouco profunda, o que abona em favor dos magníficos canteiros responsáveis por esta fonte. São, para todos nós, pessoas anónimas mas, já que não sabemos os seus nomes cumpre-nos agradecer-lhes, admirando, preservando e divulgando a obra magnífica que nos deixaram.
Externamente, a cobertura é plana horizontal e formada por dez lajes de granito de diferentes dimensões. As lajes desta coberta formam, a toda a volta da fonte, uma cornija horizontal emoldurada, com 17 cm de espessura e saliente 15 cm. Esta cornija dista, do topo da porta, 43,5 cm.
Frontal e superiormente, assente sobre a cornija descrita, existe uma estrutura magnificamente trabalhada, uma espécie de altar para receber a imagem de S. João e possuindo, para o efeito, um nicho com 67 cm de altura, 30 cm de largura e 16 cm de profundidade. Com 1,20 m de altura, esta estrutura é formada por três blocos de granito sobrepostos. O bloco basal mede 1,48 m de comprimento, 23 cm de altura, 40 cm de largura e possui esculpida uma bonita peanha limitada, superiormente, por três estreitas faces, uma frontal e duas laterais, simétricas e cuja superfície horizontal superior mede 30 cm de largura e 34 cm de profundidade. Abaixo de cada uma destas faces existe uma ornamentação em relevo e em forma de pétala. O segundo bloco assenta sobre o anterior, contém a maior parte do nicho e mede 50 cm de altura. O terceiro bloco assenta sobre o anterior e possui, a completar o limite superior do nicho, uma bem esculpida concha. De um e outro lado da base do nicho existem, em posição simétrica, duas volutas em S. A encimar toda esta estrutura, mais duas volutas em S, simétricas. Finalmente, no topo entre estas volutas, podemos observar, cravado e em posição vertical, um ferro de secção circular e que se destinava, certamente, a suportar mais um ornamento em granito, cuja forma, dimensões e destino hoje desconhecemos.
De um e outro lado da estrutura que possui o nicho descrito está presente um pináculo de granito, com base quadrangular e a porção superior em forma de tronco de pirâmide de faces laterais curvas. Cada uma destas estruturas ornamentais mede 51 cm de altura e é formada por duas partes constituintes: uma porção basal, o plinto, que forma um cubo com 31 cm de aresta, e uma porção superior assente sobre aquela, em forma de tronco de pirâmide, com 20 cm de altura. Em três das faces laterais do plinto da esquerda e duas do plinto da direita, um sulco paralelo às quatro arestas limita uma superfície quadrangular com 25 cm de lado. Dentro deste quadrado foi esculpido outro de menores dimensões, cujos quatro vértices coincidem com o entro dos lados do quadrado anterior, formando um losango de ângulos iguais ou pouco diferentes.

Quando a fonte enche e transborda, a água corre por uma caleira de granito com 2,60 m de comprimento, 10 cm de largura e 4 cm de profundidade, directamente para uma pia rectangular também de granito, pia bebedouro, com 1,58 m de comprimento, 45 cm de largura e 35 cm de profundidade. Daqui, e através de uma curta caleira de, apenas, 35 cm de comprimento, corre para um tanque de lavar roupa de grandes dimensões, pois mede 4, 00 metros de comprimento, 2,64 m de largura e 60 cm de profundidade. Este tanque possui lavadouros originais de granito, corridos, com 50 cm de largura, nas duas faces maiores e na face menor em posição distal relativamente à fonte perfazendo, no conjunto, um comprimento de 10,64 m. Todo este conjunto está, actualmente, protegido por uma cobertura de telha tipo Marselha e vigamento de eucalipto, tudo suportado por duas colunas e um muto de blocos de cimento.

Adérito M. Freitas, Concelho de Valpaços, FONTES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA…, C.M.V., Vol. I, 2005, pp. 46-49.



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