sexta-feira, 4 de março de 2011

617.º Aniversário do nascimento do infante D. Henrique

Por Leonel Salvado
Possível retrato do Infante D. Henrique, pormenor do políptico de S. Vicente, séc. XV, Museu Nacional de Arte Antiga Lisboa | http://pt.wikipedia.org

Nascido na cidade do Porto a 4 de Março de 1394 e falecido na vila de Sagres a 13 de Novembro de 1460, o infante D. Henrique foi o 5.º dos 9 filhos legítimos (o 4.º varão) havidos de D. João I, fundador da dinastia de Avis, e D.ª Filipa de Lencastre, um dos seis que chegaram à vida adulta e foram eternizados com o sublimado epíteto colectivo de a “ínclita geração”. Uma nota curiosa acerca do seu nascimento é que sucedeu numa Quarta-Feira de Cinzas, dia pouco apropriado ao nascimento de uma criança, sendo baptizado alguns dias como nome de Henrique, diz-se que em honra ao seu tio-avô Henrique de Lencastre (futuro Henrique IV de Inglaterra) e recebendo por padrinho o bispo de Viseu, João Gomes de Abreu. Apesar de certamente ter sido na infância uma figura relativamente apagada, já que pouco se sabe da sua vida até aos catorze anos de idade, viria a afirmar-se como a mais importante figura do início da era dos Descobrimentos o que lhe valeu ter sido cognominado por “o Navegador” e “O Infante de Sagres”.
Parece ter sido ele quem em 1414 convenceu o pai a organizar uma armada com vista à bem sucedida conquista de Ceuta, em Agosto do ano seguinte, quando esta praça marroquina se afigurava de primordial importância estratégica para assegurar aos portugueses o controlo do comércio entre o Atlântico e o Levante. Saía assim do anonimato este jovem infante da ínclita geração que, em 1415, aos 21 anos de idade foi armado cavaleiro e recebeu os títulos de “duque de Viseu” e “senhor da Covilhã” e a 18 de Fevereiro do ano seguinte lhe foi confiada a responsabilidade de organizar no reino a manutenção da recém-conquistada Praça norte-africana. Depois de uma série de esforços, nem sempre bem sucedidos, para garantir a defesa de Ceuta face aos assédios de vinha sendo alvo da parte dos reis mouros de Fez e de Granada, começaram a vincar-se os principais traços da sua futura personalidade, caracterizadas pela temeridade e fervor anti-muçulmano e por uma desmesurada paixão pela exploração do Oceano Atlântico a que se dedicou até ao fim da sua vida. Nomeado a 25 de Maio de 1420 Grão-Mestre da Ordem de Cristo pôde, enfim transformar essa paixão em Cruzada, resultado dessa combinação a semente da epopeia dos Descobrimentos.
Recordemos mais algumas referências da grandeza desta fascinante figura da História de Portugal no retrato que dele se fez no programa promovido pela RTP, “Os Grandes Portugueses”, onde obteve o 7.º lugar.

Este homem desvendou os mistérios do oceano. Com extraordinária obstinação, o Infante D. Henrique foi o mentor da expansão ultramarina que, mais tarde, desencadeou os descobrimentos. Revelou-se muito hábil a farejar boas oportunidades de investida. Culto, empreendedor, prospectivo, o Infante D. Henrique preparou Portugal para aquela que foi a grande gesta nacional. Deu, na expressão de Camões, “novos mundos ao mundo”. “É o verdadeiro iniciador da expansão universal de Portugal e da Europa”, afirma Ferreira do Amaral, ex-ministro das Obras Públicas.
É um dos vultos mais brilhantes da Idade Média. É o homem que simboliza a glória dos descobrimentos. O Infante D. Henrique é um príncipe medieval obcecado pela ideia de cruzada que arrasta a Europa e o mundo para a modernidade da comunicação entre os povos. Foi um excêntrico para a sua época. “Tinha uma visão e conseguiu concretizá-la, à custa de muito esforço e trabalho. É esse o mérito de D. Henrique”, aponta Ferreira do Amaral, ex-ministro das Obras Públicas e seu profundo admirador. “Um visionário”, acrescenta o empresário Filipe de Botton, outro dos seus admiradores.
Nascido no Porto em 3 de Março [?] de 1394, o Infante foi o quinto filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Em 1414 convenceu o pai a organizar a expedição a Ceuta, que foi conquistada em 1415, marcando o início da expansão portuguesa. Se não existisse “um Infante D. Henrique, planeador, estratega, com a noção do que pretendia e a insistir sistematicamente, esta expansão teria ficado a meio, como ficou noutros países”, assegura Ferreira do Amaral.
O sucesso deste feito valeu ao Infante, nesse ano, os títulos de duque de Viseu, desconhecido então em Portugal, e de senhor da Covilhã, o que aumentou largamente o seu património. Aos rendimentos da sua casa senhorial juntou os da Ordem de Cristo, da qual foi nomeado regedor em 1420. Foi este desafogo económico que o levou a organizar, primeiro, uma armada de corso e, mais tarde, a exploração do Atlântico. “É o único português que figura em todas as histórias da Europa”, afiança o jornalista Carlos Magno. O Infante D. Henrique queria enriquecer mas, acima de tudo, conhecer novos mundos. Tinha aquela lucidez forte e taxativa dos visionários com um objectivo traçado. “Era muito pragmático. Procurou sempre engrandecer a sua casa, ao mesmo tempo que perseguia um sonho: o da cruzada”, concretiza João Oliveira e Costa, director do Centro de História de Além-Mar, da Universidade Nova de Lisboa. “Os descobrimentos nasceram dessa combinação.”
De facto, navios ao seu serviço chegaram pela primeira vez à Madeira em 1419 e aos Açores em 1427, ilhas que foram povoadas por ordem do Infante. Mas este homem de espírito voluntarioso e extraordinária obstinação queria ir mais além. O reconhecimento da costa ocidental africana era um dos seus objectivos. A passagem do cabo Bojador por Gil Eanes em 1434 foi um grande êxito e terminou com os medos ancestrais relacionados com aquelas paragens longínquas. Já tinham sido feitas diversas tentativas para dobrar o cabo, mas os navegantes acabavam sempre por recuar. “Se a sociedade global em que vivemos tem uma origem remota e indiscutível, é a passagem do cabo Bojador por Gil Eanes”, garante João Oliveira e Costa. O Infante D. Henrique “é o primeiro marco da globalização”, confirma Fernando Seara, presidente da Câmara de Sintra.
O Infante não se dedicou à navegação por simples aventura, “dedicou-se de forma científica, mas também religiosa, porque queria propagar a fé cristã e combater o islamismo”, diz o cantor João Braga. “Discutiu-se muito sobre o seu objectivo, mas acho que, na verdade, o objectivo final era fazer um ‘bypass’ ao cordão islâmico do Norte de África”, clarifica Ferreira do Amaral.
A sua biografia não é feita só de êxitos. De facto, foi um dos principais proponentes da conquista de Tânger, que se tentou em 1437 e que terminou de forma trágica devido à prisão e posterior morte no cativeiro do seu irmão, o infante D. Fernando. As viagens de exploração foram retomadas em 1441, com Dinis Dias a chegar ao rio Senegal e a dobrar o cabo Verde três anos depois. A Guiné é ainda visitada no seu tempo. Até ao ano da morte do Infante D. Henrique, em 1460, a costa africana foi reconhecida até à Serra Leoa. “Um homem inteligente e com coragem”, diz o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio. O avanço nas explorações foi acompanhado pela criação de feitorias, através das quais se trocavam produtos europeus por ouro, escravos, malagueta, algodão e marfim.
Apesar de só ter sulcado as ondas do oceano para as suas expedições de conquista em Marrocos, ficou conhecido como “o Navegador”. Um cognome bastante merecido, pois é a ele que se deve o primeiro impulso e grande incitamento das navegações posteriores.
Segundo a lenda, o Infante D. Henrique fundou, como governador do Algarve, a mítica “Escola de Sagres”, com relevante importância, mas que nunca existiu no sentido físico, como explica João Oliveira e Costa: “É no Sudoeste algarvio que nasce a caravela dos descobrimentos e alguns dos instrumentos de orientação em alto-mar, que depois foram usados com sucesso. Nessa perspectiva, podemos dizer que houve uma ‘Escola de Sagres’. Não no sentido de um edifício.”
Apaixonado pelas ciências cosmográficas, o Infante foi o maior matemático do seu tempo, aplicou o astrolábio à navegação e inventou as cartas planas. Reuniu à sua volta os melhores cérebros internacionais no campo da ciência. “Trouxe o que de melhor havia na Europa em termos de navegadores, astrónomos, gente que conhecia o mar”, refere Filipe de Botton. “Foi buscá-los e deu-lhes todas as facilidades para poderem trabalhar”, explicita Teresa Lago, professora catedrática de Astrofísica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Até 1400 o Atlântico era um oceano virgem de navegação. Um deserto de água e a barreira que faltava ultrapassar. Foi o Infante D. Henrique quem incentivou a façanha. Ajudou a construir o que hoje está no código genético de Portugal e da Europa. “É uma das grandes figuras da história da Humanidade”, remata Ferreira do Amaral.

In http://www.rtp.pt/gdesport/?article=90&visual=3&topic=1


A controvérsia sobre imagem do infante

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