terça-feira, 29 de março de 2011

202.º Aniversário do desastre da ponte das barcas

A ponte das barcas
Ponte das barcas - http://babaluondeestastu.blogspot.com | Ponte Pênsil, 1843 - http://paginas.fe.up.pt

A chamada Ponte das Barcas foi uma ponte sobre o Rio Douro que existiu na cidade do Porto no início do século XIX, construída sobre barcaças.
A necessidade de haver uma travessia para a margem Sul do Douro para circulação de pessoas e mercadorias do Porto, constituiu uma preocupação permanente ao longo dos séculos. Ao longo dos tempos houve várias "pontes das barcas" construídas para determinados propósitos, como a rápida deslocação de contingentes militares. No entanto, por regra a travessia do Douro fazia-se com recursos a barcos, jangadas, barcaças ou batelões.
A Ponte das Barcas, construída com objectivos mais duradouros, foi projectada por Carlos Amarante e inaugurada a 15 de Agosto de 1806. Era constituída por vinte barcas ligadas por cabos de aço e que podia abrir em duas partes para dar passagem ao tráfego fluvial.


Foi nessa ponte que se deu a tristemente célebre catástrofe da Ponte das Barcas, em que milhares de vítimas pereceram quando fugiam, através da ponte, às cargas de baioneta das tropas da segunda invasão francesa, comandada pelo marechal Soult, em 29 de Março de 1809. Mais de quatro mil pessoas morreram.
Reconstruída depois da tragédia, a Ponte das Barcas acabaria por ser substituída definitivamente pela Ponte Pênsil em 1843
Texto: in Wikipédia, a enciclopédia livre


O desastre da ponte das barcas
PEDRO DE BRITO, HISTORIADOR

Dado que em Março de 1809 ainda havia pouquíssimos oficiais britânicos nas fileiras das por então desorganizadas unidades do Exército português que se tentaram opor à invasão de Soult, são também raras as referências a este período pelos férteis memorialistas que escreveram sobre a Guerra Peninsular.
Uma precoce presença é a do barão de Eben, que comandava um dos três batalhões do primeiro corpo voluntário português totalmente equipado, fardado e pago pelos ingleses - a Leal Legião Lusitana. Com ele se encontrava o comissário irlandês Henegan, encarregado do aprovisionamento em pólvora e munições. As suas memórias, publicadas em pleno apogeu do romantismo francês, e sofrendo assim a forte influência de Chateaubriand, contêm o seguinte relato, porventura exagerado:

O desastre da ponte das barcashttp://informaticahb.blogspot.com

"Esta cena atroz passou-se no Porto:
"Alguns soldados franceses desgarrados tinham sido apanhados pelos portugueses, que para se vingarem duma derrota em parte atribuível à sua cobardia, arrastaram estes desgraçados para a rua principal, a Rua Nova, e aí os mataram barbaramente, crucificando-os de cabeça para baixo, para além de os mutilarem da forma mais horrível.
"Quando três dias depois o Exército francês forçou as defesas do Porto, não só o espectáculo dos seus compatriotas assassinados logo se lhes apresentou mas, como para provocar ao máximo as malvadas paixões da força invasora, aqueles soldados portugueses que tinham fugido a enfrentar os franceses em campo aberto, faziam agora fogo dos telhados, aumentando com cada tiro a fúria dos franceses que passavam em baixo, e que cedo se manifestou fazendo correr rios de sangue.
"Quando estas tropas francesas desciam a Rua Nova com as suas espadas banhadas no sangue dos habitantes indefesos, milhares destes procuraram escapar pela ponte de barcos que estabelecia a ligação com a povoação e o Convento de Vila Nova.
"O inimigo tinha penetrado na cidade de forma tão inesperada que não restava outra esperança de refúgio senão aquele temporário que se conseguiria na margem oposta do rio: uma massa de seres desprotegidos - homens, mulheres, crianças - foi vista a fugir aterrorizada para a ponte.
"Que pena poderá descrever as atrocidades que foram perpetradas em todos os cantos da cidade nesse momento terrível. À medida que cada casa se tornava por sua vez num local de assassínio e violação, aumentava o horror; e como se a esperança de prolongar a obra de destruição se misturasse com os bárbaros desejos do momento, um corpo de cavalaria inimigo galopou para interceptar os fugitivos que se dirigiam à ponte, enquanto que várias peças de artilharia começaram um fogo mortal na mesma direcção.
"À medida que os dragões franceses pressionavam na direcção da ponte que constituía a última esperança dos infelizes habitantes, teve lugar uma cena de horror excedendo talvez qualquer outra das que têm conspurcado os anais da guerra.
"Com ferocidade impiedosa os soldados sedentos de sangue espadeiravam para todos os lados, não poupando idade nem sexo. Inumeráveis vítimas indefesas foram assim destruídas e, como que para aumentar a intensidade do sofrimento, os primeiros dois barcos que suportavam a ponte afundaram-se sob a pressão do enorme peso, e massas de seres humanos foram precipitadas na torrente tumultuosa. Viam-se perseguidores e perseguidos agarrados freneticamente uns aos outros nos últimos momentos duma luta mortal, à medida que a forte corrente os arrastava do local da luta para a quietude da morte".
DN, 29-03-2009

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