domingo, 27 de março de 2011

Carta arqueológica do Concelho de Valpaços - 2

ADÉRITO MEDEIROS FREITAS, Julho de 2001
Esta laboriosa iniciativa de transcrição e reprodução de fotos e esquemas do extraordinário trabalho realizado pelo Dr. Adérito Medeiros Freitas, assim divulgado através da Internet é dedicada a todos os valpacenses e portugueses interessados nesta temática, mas em especial aos valpacenses que se encontram deslocados há longa data da sua freguesia natal, bem como aos seus descendentes. 

FREGUESIA DE ALVARELHOS

TRANSCRIÇÃO E REPRODUÇÃO INTEGRAL AUTORIZADA PELO AUTOR
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

“Freguesia do concelho e concelho e comarca de Valpaços, distrito e dioceses de Vila real. 392 h. em 92 fogos (estimativa de 1960); 302 h. em 79 fogos (1970). Orago: Nossa Senhora da Expectação.”
Enciclopédia Verbo,Vols. 1 e 19, pág. 1541

Compõem esta freguesia, as povoações de Alvarelhos (sede) e Lama de Ouriço.
Sob o ponto de vista geológico, toda a área desta freguesia é formada por rochas antigas, paleozóicas, granito e xistos, com nítido predomínio da primeira.




1 – Castro de Lama de Ouriço Imóvel de interesses público Decreto n.º 1/86 de 3 de Janeiro

Castro de Lama de Ouriço. Planta esquemática
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Localização: 
A cerca de 700 metros a SE da povoação, num cabeço granítico designado por “Cabeço da Muralha”.


Acesso:
Para quem, de Sá, se dirija a Lamas de Ouriço encontra, à entrada da aldeia, uma construção de um só piso, espécie de armazém. O caminho ao lado, à direita da estrada, dá acesso ao “Castro”. O resto, de poucos minutos, tem que ser feito a pé.

Coordenadas de Gauss: 266,5 527,7

Coordenadas geográficas:
Altitude: 752 metros
Longitude - 7º 19’ 54’’ W (Gr.) Latitude – 41º 41’ 44’’ N

Folha da carta dos S. C. do E, N.º48: VILARANDELO (Valpaços) Escala: 1: 25.000

Características:
A descrição que se segue é o resultado de duas campanhas de investigação ali realizadas em 1990 e 1991, respectivamente.


Nota: É chocante verificar que, mesmo classificado, este importante monumento arqueológico tem sofrido, nos últimos vinte anos, uma das mais nefastas destruições da sua história. E, tudo, impunemente, perante a passividade dos responsáveis!
Como diria o Prof. Doutro Leite de Vasconcelos, “Cora-se de pasmo e de vergonha deante do abandono a que está votado…
E, como iremos denunciando ao longo deste trabalho, este não, infelizmente, um caso único! Até quando?

A estrutura defensiva deste Castro consta, essencialmente, de três muralhas. Na planta que junto, os limites a tracejado indicam troços das mesmas muito destruídas (principalmente depois de 1974), de limites mal definidos.

Muralha I:
A mais interna, limita uma área de forma oval, inclinada de Nascente para Poente. Mede 317,5 metros de comprimento. A sua largura, no troço N, é igual a 4,80 metros. A S, junto da porta, mede 5,70 metros de largura. A E, muito destruída e de limites mal definidos (b), a sua largura deve rondar os 12 metros, originando uma espécie de “torreão” alongado.
A porta (a) mede 2,60 metros de largura mínima. A E desta porta a muralha forma uma espécie de “torreão” e a largura aumenta aí, para 12 metros. A face externa deste “torreão”, curva, é constituída por pedras de granito muito bem trabalhadas e justapostas. Para E do “torreão e na face interna da muralha, existe uma “rampa de acesso” (d) com 70 cm de largura.
Julgo que no troço N desta muralha existirá outra porta que, contudo, não cheguei a observar.

Muralha II:
É, das três, a menos extensa pois mede, apenas, 200 metros de comprimento. Limita uma área em forma de meia lua, a S do recinto central. Entronca, pela extremidade, na muralha I e o afastamento máximo entre elas é de 35 metros.
A porta (e) mede 3 metros de largura. Nas pedras colocadas frente a frente e que constituem o que resta das “ombreiras” existe, de um lado, uma cavidade com 10 cm de diâmetro e 8 cm de profundidade e, do outro lado, um sulco vertical. Esta cavidade e sulco destinavam-se a receber uma “tranca” de madeira, idêntica à que, ainda hoje, é fácil encontrar nalgumas das casas mais antigas das aldeias.
Junto da porta, a W, a muralha mede 5,80 metros de largura.
A E da porta e na face interna da muralha, existe uma “rampa de acesso” (f) com 1 metro de largura. Ali, a largura da muralha é de 5, 30 metros.


Muralha III:
É, de todas, a mais extensa, pois mede 500 metros de comprimento.
Supondo, o seu início, o ponto de encontro comum desta muralha e da muralha I com os rochedos graníticos situados a W, ela envolve totalmente as duas muralhas anteriores, indo entroncar, directamente, na face externa dela própria.
Limita uma extensa área de largura variável. A distância máxima entre ela e a muralha I, a N, é igual a 50 metros. A distância máxima entre esta muralha e a muralha II, a S, é igual a 36 metros.
A largura desta muralha, onde nos foi possível determiná-la é, em média, de 4 metros.
Encontrei nesta muralha, “três portas”, (g, h e i) e uma “rampa de acesso” (k).

[1 – j] – “Lagar” ou “Altar”?

Lagar” ou “Altar” ?
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Trata-se de uma cavidade rectangular cavada num monólito de granito, aparentemente deslocado para o lugar que hoje ocupa. A profundidade da cavidade varia entre 15 cm e 18 cm e possui uma “goteira” com 36 cm de comprimento. O monólito de granito mede entre 50 cm e 60 cm de espessura.
Em volta desta estrutura, um certo número de blocos de granito parecem limitar um recinto com ele relacionado.
A cerca de 10 metros de distância, para W, existem vestígios de casas de paredes-meias e contorno aproximadamente quadrangular medindo, de lado, cerca de 5 metros. Dispõem-se, ao que parece, de um e outro lado de uma rua e irão entroncar na face externa da muralha.
No local encontrei numerosos fragmentos de “tegulae” e um pedaço de “escória” de fundição.

[1-j] – “Altar” ou “Lagar” (?)
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Na sua Monografia de Valpaços, págs. 5 e 6, O Dr. A. Veloso Martins, escreveu:
A oeste da povoação à distância de 700 metros fica a Murada, nome do seu Castro, já referido na “Corografia Portuguesa” do Padre Carvalho da Costa. Ainda ali se podem ver, uma bem demarcada fileira de “menhires” e uma ara rupestre de ofiolatria no recinto do vetusto santuário, o que prova, neste segundo caso, que a serpente também aqui tinha os seus adoradores.

Julgo que a “… ara rupestre de ofiolatria no recinto do seu vetusto santuário…” corresponde ao “Altar”(?) que acabo de descrever. Não encontrei, no entanto, qualquer “gravura serpentiforme” nas rochas das redondezas, que justificasse aquela designação! A existência de um “santuário rupestre de ofiolatria” no “Cabeço da Muralha” é uma hipótese que não deve ser posta de parte, uma vez que o “culto da serpente” foi uma realidade junto de outros povoados fortificados do concelho de Valpaços, como referiremos oportunamente.
Em 1990 detectámos, a N, entre as muralhas I e III, um alinhamento de pedras de granito, de forma tabular, algumas com mais de 1 metro de altura acima do solo cujo significado, na nossa primeira investigação, não conseguimos entender. Este alinhamento estende-se por um comprimento de 21 metros.

Lages de granito pertencentes, possivelmente, a uma antiga muralha.
O alinhamento paralelo, à esquerda, dista, destas lages, 3,60 metros.
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Julgo ser a este alinhamento que se refere o Dr. A. Veloso Martins, quanto escreve: “… Uma bem demarcada “fileira de menhires”…”
Após uma limpeza local do mato, a fim de tirar algumas fotografias, descobrimos que o referido alinhamento parece representar, antes, o resto de uma antiga muralha ali existente, provavelmente antes da construção da muralha III. Outra hipótese é a de que, essa possível muralha, nunca tenha sido concluída.

Cavidades cilíndricas em rochas graníticas:
A S e a alguma distância das muralhas, nas proximidades de um muro de vedação de uma propriedade, existem numerosas cavidades cilíndricas semelhantes a dezenas de outras presentes nas proximidades dos Castros da Lampaça e Santa Valha. Qual a sua verdadeira função?

António Rodrigues Colmenero
AQUAE FLAVIAE
I. Fontes Epigráficas
Publicação da Câmara Municipal de Chaves
(clique sobre a imagem para aumentá-la)

Sem comentários:

Enviar um comentário